domingo, 12 de julho de 2015

Caribe - Parte I: O Blue Wind no pátio de obras

Grenada

Toda nossa jornada de 3 meses no Caribe começou por Grenada, uma das grandes ilhas
caribenhas situada ao sul do arquipélago e que se tornou popular no meio dos cruzeiristas, assim como Trinidad & Tobago, por estar fora do cinturão dos furacões que assolam as ilhas caribenhas entre Maio e Novembro.

O Blue Wind saiu do Brasil meio na marra, tipo "vamos lá galera, tem que sair, o que faltou vamos fazendo pelo caminho"... Dentro desse espírito programei um "upgrade" no barco na Grenada Marine, que fica em uma enseada no sul da ilha, chamada St. Davids. Programei para o barco ficar em seco durante 3 semanas e, nesse tempo, pretendíamos instalar uma targa de inox com suporte para o dingue, dois geradores eólicos (um deles se transformaria no nosso maior pesadelo da viagem), um sistema de internet a bordo chamado Sailor Broadband, uma placa solar e diversas outras "coisinhas" que não puderam ser feitas no Brasil por conta do atropelo da partida.

Chegamos na marina no dia 19 de Novembro de 2014, deixamos o Blue Wind no píer por uma noite, e, no dia seguinte, colocamos o barco em seco para iniciar o trabalho programado.

Uma das coisas mais fantásticas de uma viagem dessas é que você não tem a menor ideia do que vai acontecer em seguida. Nenhum dia é igual ao outro, nada é previsível, tudo é possível. Inclusive conhecer pessoas às quais você se apegará tanto que terá uma tremenda dificuldade para se despedir. Os dias são muito intensos, as emoções estão mais à flor da pele, as "defesas naturais” ficam reduzidas, afinal esses novos amigos tem o mesmo espírito aventureiro que você, gostam e "não gostam" das mesmas coisas, ou seja, de alguma maneira são como sua alma gêmea, o que gera uma energia muito agradável e ao mesmo tempo saudável no ar. De uma forma bem resumida, creio ser essa a melhor explicação que encontrei para justificar tanto apego em tão pouco tempo
Ken, Karin e Nina - Família Suíça trabalhando no Makaio

O Ruy ficou encarregado de acompanhar toda a obra durante as três semanas em que o barco ficaria em seco e eu aluguei um carro e comecei a ir atrás de todas as coisas que precisava comprar, além de dar uma mão no barco, quando não estivesse na cidade comprando coisas.

Uns 10 dias depois chegou a Ani, que veio me encontrar para iniciarmos a fase internacional da viagem. No aeroporto ela conheceu a Karin uma suíça que, casualmente, estava indo para Grenada e, também casualmente, estava indo encontrar uns amigos que a haviam convidado para velejar pelo Caribe, cujo barco estava justamente onde? Sim, mera coincidência ou obra do destino, o Makaio estava na mesma marina que o Blue Wind bem em frente, do outro lado do pátio. Incrível!

Uns dias antes da chegada da Ani procurei um hotel um pouco melhor que o que eu estava dividindo com o Ruy e negociei uma tarifa diferenciada, pois sabia que esse upgrade no Blue Wind seria bem mais demorado do que o planejado. O hotel ficava numa das praias mais bonitas de Grenada mas tinha o inconveniente de ficar bem longe da marina, quase meia hora de carro.

O Makaio, um Halberg-Rassy antigo, muito bem cuidado, de 35 pés também estava com sua tripulação ansiosa por partir e estava refazendo o leme, a pintura de fundo e a pintura geral do barco. O Ken e a Nina, um casal de suíços incrivelmente simpático e agradável, trabalhava dia e noite no Makaio, dormindo no barco em meio à galões de tinta, pincéis, lixas e toda sujeira produzida por esse tipo de obra. Com a chegada da Karin, que a Ani conheceu no aeroporto, começamos a nos encontrar com mais freqncia, saindo algumas vezes para passear juntos mas principalmente no tradicional happy hour do bar da marina, quase todos finais de tarde.

Uma aventura dessas sempre nos reserva muitas surpresas. Na mesma marina chegou um belo dia a maior lenda viva da história das regatas mundiais, Sir ROBIN KNOX-JOHNSTON, vencedor e único participante a completar a primeira regata de volta ao mundo em solitário, sem escalas, em 1968. Aos 75 anos ele acabara de completar a Regata Transatlântica Route du Rhum, entre Saint-Malo, na França e Guadaloupe, no Caribe, chegando em 3º lugar com seu incrível Open 60. Além de um dos maiores navegadores de todos os tempos, ele é a simpatia em pessoa. Ficou muito amigo do Ruy, que acabou nos apresentando, e terminamos tomando várias cervejas juntos (sim, nossos heróis também tomam cerveja!! e muitas!!) e escutando as memoráveis histórias desse incrível homem do mar. Até parece que éramos amigos de longa data!

A Nina e o Ken moraram no Brasil por alguns meses e portanto falavam um português bem razoável. A Karin é poliglota e fala, além do alemão, do francês e do inglês, um excelente espanhol. Entre eles falavam alemão, conosco uma mistura de inglês, português e espanhol. Era muito divertida toda essa confusão idiomática, mas o fato é que nos entendíamos muito bem.

Finalmente no dia 12 de Dezembro o Blue Wind foi pra água. De novo meio na marra pois ainda faltavam muitas coisas, mas nosso tempo tinha se esgotado e o principal estava resolvido. Tínhamos energia eólica, solar e internet de última geração a bordo! Hora de começar a tão esperada exploração do Caribe. Numa época de altíssima temporada teríamos, a partir de então, até o dia 12 de Janeiro para chegar em Martinique. A marina de Le Marin, no sul da ilha, seria o ponto de encontro dos participantes do Blue Planet Odyssey, que estaria partindo para o Panama no dia 18 de Janeiro de 2015.

Nossa amizade com o Makaio estava a pleno vapor, a ponto de já havermos decidido subir o Caribe juntos, até Martinique, onde fatalmente teríamos de nos separar. Mas ninguém pensava nisso... Nos encontrávamos todos os dias, parávamos nos mesmos lugares, fazíamos jantares, café da manhã, almoço, ora no Blue Wind, ora no Makaio, programávamos passeios, trilhas e escaladas num ritmo frenético, não havia um dia de descanso sequer.

No dia 13 de Dezembro o Ruy voltou para o Brasil, para passar as festas com os filhos, organizar suas coisas e descansar um pouco, afinal já vínhamos em um ritmo de trabalho intenso no Blue Wind desde quando ele foi pra água no Guarujá, no inicio de Julho de 2014. Ele voltaria somente no dia 06 de Janeiro, para Santa Lúcia, onde nos encontraria de novo para seguirmos viagem para o Panamá.

No dia 17 de Dezembro, finalmente soltamos as amarras de Grenada e saímos de Port Louis com destino à Tyrrel Bay, em Carriacou, onde começa mais um capítulo da Volta ao Mundo no Blue Wind.